O
conto narra em primeira pessoa o que o ser humano é capaz em situações de humilhação.
As personagens principais são: Procópio, o enfermeiro e o coronel Felisberto, o
paciente.
A
narrativa conta a história de um enfermeiro que fora contratado por um padre
para cuidar de um paciente idoso. Esta inicia-se com uma pergunta introdutória,
chamando a participação, questionamento e reflexão do leitor, a respeito da
essência moral e dos valores humanos na realidade apresentada. Através de uma
desconversa filosofante e ambígua, a intriga é manejada, com conversas
retóricas em que o narrador zomba do leitor menos entendido. A realidade no
conto é volúvel à medida que o narrador elabora uma visão pessimista, amarga e
melancólica da existência. Instaura-se, no ato narrativo, uma desproporção
entre o ser e o parecer, isto é, uma dualidade, verdade x mentira, tendo em
vista as enganosas máscaras sociais por meio de um ponto de vista futurístico
em que o autor será defunto, no momento em que seu testamento confessional for
lido. O narrador é caracterizado como
protagonista e salienta o mascaramento do foco narrativo sempre com o desejo de
manipular o leitor de maneira debochada e zombeteira. O aspecto técnico do
conto não é onisciente, a visão de mundo do narrador-personagem esconde-se
atrás do foco narrativo, falando diretamente ao leitor.
No
desenvolvimento do enredo, nota-se que o protagonista Procópio enfatiza um flagrante,
que com muito cuidado é narrado, uma cena que envolve tensão e arma o nó dramático
num determinado momento da insossa vida do enfermeiro, em que a fatalidade
determina o episódio decisivo. Com efeito, o narrador-protagonista omite quase
tudo anterior aos 42 anos, a agosto de 1859. O referencial cronológico é
apresentado pela lua-de-mel de sete dias; três meses convividos com o patrão; noite
do assassinato até o amanhecer; o dia do enterro; passagem de dias; duração do
inventário; passagem de alguns meses. O referencial psicológico quando o
narrador mergulha no passado lembrando-se de fatos passados que nunca poderia
esquecer.
O
clímax ocorre na noite do crime, em que se estabelece uma simetria estrutural
em que o narrador para diante da alucinação, delírio, temor e remorso. Notam-se,
quanto ao espaço, dois núcleos que se desenrolam no decorrer da narrativa, um é
a cidade de Niterói, onde Procópio trabalha como copista em uma igreja e a vila
do interior, para onde o protagonista se desloca para ser enfermeiro do coronel
Felisberto. Os ambientes diversos são apresentados no percurso da narrativa
como a casa do coronel onde se estabelece a dependência mútua; agressões
verbais e físicas, quarto do coronel que ocorre luta e assassinato, sala
contígua ao quarto do coronel ambiente de alucinação, delírio, temor e remorso,
na sala mortuária ocorrem à manifestação inicial das enganosas aparências sociais,
na rua podemos observar o crescimento do receio de punição, no Rio de Janeiro
desassossego; adaptação à nova realidade de herdeiro universal, na vila do
interior ocorre à mudança de personalidade em função das máscaras sociais
burguesas.
O
conto apresenta no desfecho, uma estrutura social baseada em privilégios onde o
ser humano é corrompido pelo dinheiro, pondo em evidência a ganância do lucro,
egoísmo, calculismo e os prestígios sociais, além da transformação do homem em
instrumento do dinheiro.
Revela-se então, a ideia de que
muitas vezes o universo de valores internos não corresponde aos externos.
Machado de Assis tece intertextualmente questões sobre o livre arbítrio,
vontade e aspectos relevantes à moral e faz um questionamento desses mesmos
valores humanos pelo ficcional.
Por: Priscila de Sá Braga Fonseca
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