Segundo o filósofo italiano Giorgio Agamben,ser contemporâneo é na verdade,não coincidir exclusivamente com seu próprio tempo,pois quem assim o faz não pode ver com clareza a estrutura deste tempo em decorrência de uma visão limitada.Nesta perspectiva,ser contemporâneo se relaciona com o inatual,é necessário um afastamento para obter uma melhor ótica e assim correlacionar passado e presente em um movimento dialético,proporcionando a que se pode chamar de, contemporaneidade literária.
Uma obra pode ser considerada como contemporânea ,não apenas por pertencer a um período atual,mas sim por apresentar características que possam ir além daquilo que o sistema em que a crítica se insere pode compreender.
Machado e suas obras se enquadram perfeitamente neste conceito.Aqui deixo registradas minhas percepções sobre o conto A Escola de Machado de Assis,na tentativa de elucidar uma crítica mais que contemporânea,talvez atemporal,que o autor fez ao Sistema Educacional e ao papel que a escola,infelizmente,tem exercido ao longo do tempo.
Vamos ao conto!
Machado,através de seu narrador personagem,Pilar,que era um menino com idade inferior a 11 anos,nos revela o ócio que a escola pode representar e proporcionar a humanidade.A história tem início com o menino citando que a decisão de ir à escola foi baseada em uma situação de não saber o que fazer diante do ócio,obrigado pelo pai,que desejava ao filho a posse de elementos mercantis para adquirir uma posição comercial,dirigiu-se à escola.
Como característica introdutória ,podemos observar a crítica feita por Machado à contribuição da escola ao idealismo capitalista que visa condicionar os cidadãos a uma ideologia excludente e alienadora,em que quem vence é quem tem mais poder,neste caso,dinheiro ou status.
No decorrer do enredo,temos a presença de outras personagens como Raimundo e Curvelo,colegas de classe de Pilar e também o professor Policarpo.Pilar olhava pela vidraça da escola e enxergava a liberdade,liberdade que existia fora da escola,então arrependia-se de estar sentado do lado de dentro.Neste momento,Raimundo,filho do professor,lhe faz uma proposta,oferece-lhe dinheiro em troca de ajuda com as lições,mesmo preocupado Pilar aceita.Curvelo vê tudo e decide denunciar os dois ao mestre Policarpo,que furioso joga o dinheiro fora e castiga as crianças.
Antes do desfecho é importante lembrar que Machado faz outra crítica,através de seu narrador,desta vez em relação a postura dos educadores,no trecho “Naquele dia foi a mesma coisa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. ” e ainda à política no trecho “E daí, pode ser que alguma vez as paixões políticas dominassem nele a ponto de poupar-nos uma ou outra correção.”,sabendo que a honestidade e correção em nada tinha a ver com as paixões políticas.
No desfecho,depois de castigado Pilar retorna para sua casa com a certeza de ter aprendido duas lições na escola:a primeira relacionada a corrupção e outra relacionada a delação.No fim a escola não proporcionou nada,sua estadia nela foi ociosa ,em nada trabalhou para desenvolver habilidades que pudessem torná-lo um cidadão pleno.As lições que aprendeu lá aprenderia fora dela também.
Este conto foi publicado em 1896 na coletânea Várias Histórias,engloba uma realidade que o sistema finge não ver, realidade totalmente pertinente a época em que foi publicado,com percepções passadas e ao mesmo tempo plenamente coincidentes com o nosso presente em pleno século XXI.
Tem como um autor ser mais contemporâneo que o nosso Machado?
Por: Suzana Correia Lemos
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