segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A Sereníssima República-Corrupção política ou verdade humana?

Corrupção política ou verdade humana?
Este conto foi publicado na coletânea Papéis Avulsos,datada de 1882,intitulado “A Sereníssima República”,notoriamente trata-se de uma crítica aos processos eleitorais  e a corrupção,não apenas da época em questão,mas também da nossa atualidade.Dessa forma,podemos elucidar a contemporaneidade das obras machadianas,pois há um certo discurso dialético entre passado,presente e futuro.
Agora,de acordo com o novo conceito de interpretação,legitimado pelo círculo hermenêutico gadameriano,que prestigia a leitura do todo pelas partes e das partes pelo todo e que também reforça a intenção do desvelamento,ou seja,ler o que não está explicitamente escrito,podemos perceber que as críticas aos processos eleitorais tornam-se meros planos de fundo para o que de fato quer ser revelado,não apenas neste conto,mas em toda extensão da obra do autor de “O Alienista”.Na realidade é mais que uma crítica irônica e realista da sociedade,é um despertar para o mistério essencial que habita o ser humano e que responde pela motivação de muitos de seus atos.Isto posto,mais uma vez encontramos nos contos de Machado de Assis, o “humanitismo borbista”,criado no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas e melhor articulado em Quincas Borba.O humanitismo nada mais é do que as atitudes humanas sendo motivadas pelas próprias vontades,o instinto de sobrevivência a qualquer custo,a destruição da vida alheia e á própria.
O conto tem início com o narrador chamando atenção para uma descoberta brasileira muito mais importante do que uma outra que havia sido publicada pelo jornal O Globo.Há quem diga que tal publicação nunca existiu,então pode se tratar de uma crítica ao O Globo se levarmos em consideração,o questionamento que Machado,através de seu narrador,fez em relação ao materialismo científico em voga na época,que era tão prestigiado pelo jornal,isto pode ser observado quando o Cônego Vargas afirma ter embasado sua descoberta em uma citação de Darwin e Buchner “Citando Darwin e Büchner, é claro que me restrinjo à homenagem cabida a dois sábios de primeira ordem, sem de nenhum modo absolver (e as minhas vestes o proclamam) as teorias gratuitas e errôneas do materialismo.
O narrador afirma ter encontrado uma espécie de aranha que fala e ter criado uma sociedade chamada de Sereníssima República.Através do recurso estilístico chamado metáfora,Machado associa as aranhas às pessoas,a própria humanidade,desta forma ,faz outra crítica quando o cônego afirma “A aranha, senhores, não nos aflige nem defrauda; apanha as moscas, nossas inimigas, fia, tece, trabalha e morre. Que melhor exemplo de paciência, de ordem, de previsão, de respeito e de humanidade?
Durante a narrativa,Vargas determina um governo político para as aranhas,impõe então um sistema semelhante a República da antiga Veneza em que as eleições eram feiras a partir da retirada de bolas contendo os nomes dos candidatos de dentro de um saco,as próprias aranhas deveriam tecer  e formar o saco,com sucessivos experimentos o narrador tentou dar ordem social as aranhas,mas não teve sucesso,pois o sistema foi sendo adaptado e fraudado  pelas próprias aranhas ,que buscaram seus próprios interesses,o sistema corrigiu-se e variou-se por diversas vezes e modos,sempre corrupto e falho.
O conto acaba mostrando que as próprias aranhas eram as responsáveis e produtoras do problema e que esta situação nunca terá um fim.Da mesma forma ocorre com a humanidade,somos todos da mesma espécie,dominados pelo autoritarismo social e político e ainda assim não deixamos de propiciar e legitimar a opressão de que somos vítimas.
Como podemos ver,se trata bem mais do que uma crítica as corrupções políticas e diferenças sociais,é na verdade um alerta ao leitor,uma tentativa de desvelar o modo pelo qual esses males se fundem ao cotidiano da relações humanas.


Por:SUZANA CORREIA LEMOS

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