Recursos de linguagem
O conto “O dicionário” de Machado de Assis é contado por um narrador-locutor: o que contém as palavras, mas não se torna responsável pelo ponto de vista do enunciado, usando a polifonia que pode ser percebida no início do texto que começa com a locução “era uma vez”, que acrescenta ideologias ao longo do tempo. A utilização recursos de recuperação de informações ou mesmo de preparação para o que ainda vai ser dito no conto representam um papel fundamental na construção da coerência nessa narrativa de tempo indefinido, ou que recupera vozes que se evidenciaram no passado e ainda são validadas no momento da escrita. A linguagem escolhida para a narrativa foi a referencial, que pressentimos através do uso de anáforas indiretas, associativas ou mesmo catáforas, que são responsáveis pela continuidade dos seguimentos da linguagem.
O leitor é conduzido a fazer inferência na leitura, contando com as informações do texto para adicioná-lo mais informações, no entanto, podemos supor que o interlocutor-leitor possua os conhecimentos necessários para fazer uma interpretação referencial, na qual sejam recuperados os segmentos em seu significado principal. Percebemos, ao retomarmos o articulador textual era uma vez, que o artigo indefinido “um” foi utilizado antes de tanoeiro como consequência de “era uma vez”, para falar sobre demagogo, qualidade atribuída ao “indefinido” tanoeiro, que vem de tempo e local indeterminado, implícita, com aspecto ideológico. A ideologia desse tanoeiro demagogo é dada numa frase a ele atribuída: “Este mundo é um imenso tonel de marmelada”. Essa frase parodia um dito de caráter prático e popular, que faz parte da sabedoria do povo, portanto carrega consigo diversas vozes. A palavra política associada a tonel de marmelada leva à marmelada, com o significado de “negócio desonesto”, um registro antigo na memória do povo, para fazer referências a atos de políticos que não agradam aos cidadãos. Outro exemplo: “Viu que o trono só dava para uma pessoa”, até o momento trono não havia aparecido no texto, mas logo foi associado a rei; todo rei tem trono e isso o leva ao poder. Logo, o trecho mostra uma retomada a tudo o que o tanoeiro demagogo queria para si.
A antonímia e ironia foram utilizadas para condicionar o sentido irônico no conto, como, por exemplo: “Há um dito que sabedoria é um atributo de reis”, já que, esse referente introduzido ao texto não é condizente com as ações praticadas pelo tanoeiro.
A antonímia e ironia foram utilizadas para condicionar o sentido irônico no conto, como, por exemplo: “Há um dito que sabedoria é um atributo de reis”, já que, esse referente introduzido ao texto não é condizente com as ações praticadas pelo tanoeiro.
Por: Queli Pereira
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